* Por Eng. Rubem Penteado de Melo
A possibilidade de transportar um Peso Bruto Total Combinado (PBTC) de 58,5 toneladas em um conjunto de dois veículos (caminhão-trator + semirreboque) tracionado pela configuração 6×2 trouxe euforia ao Transporte Rodoviário de Cargas. Muitas empresas mergulharam de cabeça nesse modelo que inclui o quarto eixo, que certamente traz muitas vantagens no deslocamento se utilizado de forma correta e criteriosa. No entanto, é preciso perceber as diferenças e os cuidados extras que serão necessários em alguns segmentos do transporte, em função do risco de problemas e custos adicionais.
O fato de o primeiro eixo operar de forma autodirecional evita o arraste lateral e desgaste prematuro dos pneus, o que certamente é uma das grandes vantagens do sistema. Nas manobras de raio longo esta operação autodirecional faz com que a área de varredura e o arraste lateral dos pneus não sejam afetados.
Porém, em manobras de raio curto, como por exemplo em pátios ou esquinas urbanas, é que surge o alerta. Isso porque nem sempre o ângulo de giro desse primeiro eixo permite que ele atue de forma autodirecional, como mostra a imagem abaixo.
Para se manter direcional, o ângulo α indicado pelo desenho acima deve ser entre 18o e 22o (o grau varia de acordo com o comprimento do semirreboque). No Brasil, porém, ele geralmente varia entre 8o e 12o, menores no eixo com rala e maiores no eixo do tipo manga.
Por isso, a partir de determinado raio de manobra com o ângulo α atual, o primeiro eixo deixa de ser direcional, pois fica limitado pelo batente, e passa a se comportar como um eixo fixo. Nessa situação, então, acaba-se tendo uma suspensão de quatro eixos fixos com quase cinco metros de distância entre os extremos, o gera um grande impacto na operação do conjunto.
Consequências práticas
Os pesos desiguais entre os eixos fazem com que o centro de giro da suspensão esteja a aproximadamente 2.650 mm do primeiro eixo, lembrando que esta distância pode variar de acordo com a tara e distância dos eixos. E é essa distância que estará associada com o arraste lateral desse primeiro eixo, quando ele se tornar fixo.
Nessa condição de manobra curta, agora com quatro eixos não-direcionais, teremos os seguintes problemas:
- Desgaste extremamente acentuado dos pneus, especialmente nos ombros do 1º eixo;
- Esforços elevados nos componentes na suspensão;
- Demanda de tração adicional nos pneus do caminhão-trator, que passa a ter que arrastar os pneus lateralmente;
- Esforços laterais elevados e não previstos nas longarinas do chassi, especialmente nas carretas mais curtas, que podem causar deformações permanentes.
Suspender o eixo ajuda?
Como reação a essa consequência, alguns poderão ter a ideia de suspender o quarto eixo na manobra. Entretanto, com o conjunto carregado, vale lembrar que esta ação não é indicada. Isso porque, apesar de resolver a questão do arraste, ela pode criar novos problemas, como:
- Excesso de peso nos três eixos que ficaram no piso, com possibilidade de danos nos pneus e suspensões;
- Consequências para o pavimento devido ao excesso de peso com passagem frequente, afetando a vida útil do pátio ou asfalto;
- Tensões mais elevadas no chassi da carreta, o que, mesmo em manobras em baixa velocidade poderá deformar (selar) a estrutura;
- Possibilidade de trincas e vazamentos na parte inferior de tanques chamados autoportantes, já que o costado passa por tensões muito elevadas.
Assim, antes de mergulhar de cabeça nesse modelo, é fundamental conhecer essa dinâmica para evitar problemas e prevenir acidentes. Avaliar as questões, os riscos e os custos adicionais que podem surgir em determinados segmentos é imprescindível para determinar se este modelo é o ideal para o transporte e como operá-lo de forma correta.
Informação na prevenção de acidentes
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* Eng. Rubem Penteado de Melo é Diretor e Fundador da Anjo Tecnologia.